Amados,
Desde a Quinta-Feira Santa, quando os sinos silenciaram após o Glória e a Igreja entrou em solene abandono, vigiando diante da solidão de Cristo no Monte das Oliveiras, recebi diversas mensagens de Feliz Páscoa. Não as respondi, não por orgulho, mas porque ainda não era hora de soltar o grito de “Ele está VIVO!”.
Passamos nessa Sexta-Feira Santa pela meditação da Paixão de Cristo, o Homem Sofredor. Lembramo-nos de Pilatos a apresentá-lo ao povo, desfigurado, “Ecce Hommo” – Eis o Homem e, imediatamente fomos à Profecia de Isaias recordar o canto do Servo Sofredor (IS 53).
Às três horas da tarde, em todas as igrejas, recordamos a Paixão e Morte d’Aquele que tanto amou o mundo que não se absteve do mais duro sofrimento por causa dos que amava. Éramos todos seus inimigos e ainda assim Ele, na sua infinita misericórdia, amou-nos até o fim. Nessa cerimônia, contemplando a Paixão do Cristo, adoramos o lenho da Cruz, cantando: “Fiel Madeiro da Santa Cruz, ó arvore sem rival. Que selva outro lenho produz que traga em si fruto igual?”. Nessa mesma cerimônia ouvimos o lamento do Senhor, o popule meus, “Povo meu, que te fiz eu, dize em que te contristei, onde foi que te faltei”.
Mais à noite acompanhamos o Sermão do Descendimento, com Cristo sendo retirado Ca cruz e conduzido, em solene cortejo, na Procissão do Enterro. Matracas substituíram os sinos, tristeza e lamento nos cantos. A Banda de Música deixou de lado seus dobrados e marchas para entoar cantos fúnebres. De tempos em tempos, em meio às rezas, ecoava o canto de Verônica: “Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei vede se existe dor igual à minha dor”.
Sepultado o Cristo, passamos o Sábado Santo em meditação, com o olhar fixo na pedra que fecha o sepulcro. Desde sempre e para sempre sabíamos que a morte não poderia vencer a vida. Que o Senhor da Vida e da História ressuscitaria. Mas o silêncio e a vigília do túmulo eram necessários para que pudéssemos renovar nossa fé. A contemplação do túmulo nos faz morrer com Ele, esperando com Ele renascer.
E então com o coração doído, lembrando-nos do canto durante as procissões, não podíamos, e não queríamos, desejar Feliz Páscoa porque o Senhor ainda não havia passado entre nós. Velávamos o túmulo e a morte ainda não dava sinais de sua derrota. “Perdão meu Jesus, perdão Deus de amor, perdão Deus clemente, perdoai Senhor. Eis-me a vossos pés, pobre pecador...”
No Sábado Santo o Ofício das Trevas, solene e triste, nos recordava isso. E, portanto, não podíamos ainda ecoar o grito da vitória.
À noite, porém, tudo mudou. Começamos a vigília solene da Páscoa. Começamos pela lembrança da Criação. Recordamos a Opressão do Povo no Egito, a Páscoa do Senhor, salvando da sua fúria as casas banhadas com o Sangue do Cordeiro. Recordamos a passagem pelo mar vermelho, com o Povo a pé enxuto. Demos graças pela Criação. E no meio da vigília veio a solene notícia: “Aquele que vocês acreditavam morto, está vivo. Ele venceu a morte!!!” Nessa hora a Igreja inteira saiu de seu luto; o Esposo voltou. As portas do Inferno foram vencidas e a morte não tem mais poder nem sobre o Cristo nem sobre nós. “Ó morte, onde está tua vitória??? Cristo ressuscitou, louvor e glória!”. O Glória reboou em todos os templos, os sinos acordaram de seu repouso, o Aleluia entoado pelo Povo demonstrou a vitória do Rei, Aquele que É, que Era e que Vem.
Nessa noite santa a Igreja, pelo Precônio Pascal, nos introduziu no mistério. A Benção do Fogo Novo, o Círio Pascal, a Luz de Cristo, as luzes de todos que o seguem com fervor orante, tudo isso iluminou as trevas em que estava imerso o templo. E da boca do Sacerdote ecoou o hino:
Exulte o céu e os anjos triunfantes
Mensageiros de Deus, desçam cantando
Façam soar trombetas fulgurantes
A vitória de um Rei anunciando.
Alegre-se também a terra amiga
Que em meio a tantas luzes resplandece
E, vendo dissipar-se a treva antiga
Ao sol do eterno Rei brilha e se aquece.
Que a mãe Igreja alegre-se igualmente
Erguendo as velas deste fogo novo
E escutem reboando de repente
O aleluia cantado pelo povo.
O senhor esteja convosco!
Todos – Ele está no meio de nós!
Corações ao alto!
Todos – O nosso coração está em Deus!
Demos graças ao Senhor nosso Deus!
Todos – É nosso dever e salvação!
Sim, verdadeiramente é bom e justo
cantar ao Pai de todo o coração
E celebrar seu Filho Jesus Cristo
tornado para nós, um novo Adão.
Foi Ele quem pagou do outro a culpa
quando por nós à morte se entregou
Para apagar o antigo documento
na cruz todo o seu sangue derramou.
Pois, eis, agora a Páscoa, nossa festa
em que o real Cordeiro se imolou
Marcando nossas portas, nossas almas
com seu divino sangue nos salvou.
Esta é Senhor, a noite em que do Egito
retirastes os filhos de Israel
Transpondo o Mar Vermelho a pé enxuto
rumo à terra onde corre leite e mel.
Ó noite em que a coluna luminosa
as trevas do pecado dissipou
E aos que crêem no Cristo em toda a terra
em nosso povo eleito congregou!
Ó noite em que Jesus rompeu o inferno
ao ressurgir da morte vencedor
De que nos valeria ter nascido
se não nos resgatasse seu amor?
Ó Deus, quão estupenda caridade
vemos no vosso gesto fulgurar
Não hesitais em dar o próprio Filho
para a culpa dos servos resgatar.
Ó pecado de Adão, indispensável
pois o Cristo o dissolve em seu amor
Ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande Redentor.
Pois esta noite lava todo o crime
liberta o pecador dos seus grilhões
Dissipa o ódio e dobra os poderosos
enche de luz e paz os corações.
Ó noite de alegria verdadeira
que prostra o faraó, e ergue os hebreus,
Que une de novo o céu e a terra inteira
pondo na treva humana a luz de Deus.
Na graça desta noite o vosso povo
acende um sacrifício de louvor
Acolhei ó Pai santo, o fogo novo
não perde ao dividir-se o seu fulgor.
A cera virgem da abelha generosa
ao Cristo ressurgindo trouxe a luz
Eis de novo a coluna luminosa
que o vosso povo para o céu conduz.
O círio que acendeu as nossas velas
possa esta noite toda fulgurar
Misture sua luz à das estrelas
cintile quando o dia despontar.
Que ele possa agradar-vos como o Filho
que triunfou da morte e Vence o mal.
Deus que todos acende no seu brilho
e um dia voltará sol triunfal!
AMÉM. AMÉM.AMÉM.
É com esse Hino, com a alegria do Ressuscitado no meio de nós, que desejo uma Santa e Abençoada Páscoa nesse dia que, de tão solene, se estende por oito dias, sendo um só dia do Senhor.
Santa e Abençoada Páscoa a todos! Que o Ressuscitado habite os nossos corações e nos traga a Paz! E que na sua Segunda Vinda Ele tenha compaixão de nós e nos permita ser reconhecidos como os que habitarão à sua direita.
FELIZ E SANTA PÁSCOA!!! Que nossos corações estejam preparados para a Passagem do Senhor. E que nossas bocas pronunciem sempre o Seu louvor. Ao nome do Senhor Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e nos infernos. Pois Ele vive!!!
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