Poemetos

Um lugar para expressão de tudo quanto vivo -------------------------------------- Permitida a livre reprodução, com citação da fonte.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sobre o Shopping do Galo e porque vender uma parte é um ÓTIMO negócio.





Porque a venda parcial do Shopping Diamond é um negócio espetacular.
(explicando em termos leigos os benefícios sob o pálio do Direito).
1.   Observações iniciais:
Não vou entrar em detalhes sobre os benefícios lógicos, óbvios e claros de se ter uma casa própria, nem sobre a lógica clara e eficaz de que qualquer empresa (ou clube) pode até ter negócios diversificados, mas que sempre lucrará MAIS se focar no negócio principal. Não por acaso, muitas empresas se valem de terceirização. Ou seja, repassam a outras empresas aqueles setores que são atividades meio, mantendo consigo apenas aquelas atividades que são o foco real do negócio.
Nosso foco, aqui, será demonstrar, à luz do Direito Empresarial, porque para o Galo a venda de parte do Shopping é benéfica, ainda que não se utilizasse os recursos para construção do Estádio (e utilizando para a construção da Arena MRV, MUITO mais benéfico ainda).
Primeiro, é preciso explicitar algumas coisas:
a)   Por mais que um clube tenha gestão profissional, ainda assim, boa parte da Gestão é voltada para a paixão; ou seja, um Clube pode até ter gestão profissional no futebol, mas ainda assim, estará – querendo ou não – sendo motivado em boa parte pela política das paixões, que se reflete tanto no Conselho como, e principalmente, nas arquibancadas.
b)   Isso se vê mesmo na Europa, onde clubes são empresas, controladas por um acionista. Não à toa veem-se choques constantes entre o torcedor do Clube, que movimenta as finanças, e o Proprietário.
c)   Assim, em determinado momento, por exemplo, com o futebol, digamos, pouco eficiente, depois de 2026, como um clube, movido por paixão, irá explicar ao torcedor que deixou de investir numa contratação para fazer obras ou investimento num prédio comercial, necessários pra evitar a obsolescência do empreendimento? O torcedor, e o conselheiro, que hoje é contra a venda, suportará, no longo prazo, tais escolhas? 
d)   Ademais, como explicar que o Clube, a partir de determinado momento, deverá ter um setor, mantido com verbas que poderiam ser investidas em seu principal negócio, para gerenciar um Shopping?
e)   Como, num Clube movido a paixão, evitar-se que em determinados momentos (de crise ou de eleição) o Shopping não seja usado como moeda de troca?

2.   Explicando o que de fato o Galo tem (e não aquilo que supõem as pessoas que ele realmente tenha):

Vamos começar DESMISTIFICANDO: o Galo não tem (e não terá) um Shopping. O que o Galo tem é um PRÉDIO COMERCIAL, construído em regime de comodato e/ou arrendamento, com uso, em princípio, para estabelecimento de um Shopping, pela parceira Multiplan.

Explico: aquele terreno, onde antes se situava o Estádio Presidente Antonio Carlos, desapropriado pela prefeitura e depois retornado ao patrimônio do Galo por decisão judicial, foi o objeto primeiro da parceria. Ali, Multiplan assumia a construção de um prédio comercial, com uso e destinação que a ela interessava, por prazo certo, com pagamento de uma fração (15%) pelo uso. Tal contrato tem seus efeitos ENCERRADOS em 2026, quando, então, voltaria integralmente ao patrimônio do Galo.

Logo, não é o Shopping Diamond que retornará ao patrimônio do Galo, mas o terreno e, consequentemente, as benfeitorias sobre ele construídas, ou seja, o prédio comercial.

E por que não será um shopping que será devolvido? Porque Shopping, ali, é o que a Multiplan implantou, o que não necessariamente será o que, por exemplo, a Diretoria do Galo, em 2026, vai querer implantar.

E por que será devolvida apenas o prédio, ou as benfeitorias?Não há nada que obrigue a Multiplan a, a partir de 2026, entregar um shopping mesmo porque, a partir da devolução, ela sequer será obrigada a administrar o estabelecimento.

E aqui, sem querer ser chato, é hora de explicar um conceito fundamental do Direito Empresarial: o Fundo de Comércio (ou como fazem sinonímia os Doutrinadores brasileiros: o estabelecimento comercial).

Fundo de comércio, em linguagem simples, é tudo o que faz parte do negócio, desde a locação do ponto comercial até coisas imateriais, como marcas e patentes, por exemplo. Ou, em linguagem jurídica, do Código Civil:

"Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária."

Explicando, em termos doutrinários:

"Estabelecimento empresarial é o complexo de bens, materiais e imateriais, organizados pelo empresário ou sociedade empresária, para o fim de exercício da empresa (que é uma atividade). Esses bens devem estar organizados para a atividade da empresa, vale dizer, devem ter escopo produtivo bem como ligação intrínseca entre si - ligação funcional - para que possam constituir-se e caracterizar-se como integrantes do estabelecimento. Um conjunto ou agrupamento de bens isolados, sem a ligação funcional, em princípio não se caracteriza como estabelecimento, mas sim como integrante do patrimônio do empresário ou da sociedade empresária. O estabelecimento empresarial (ou fundo de comércio) não pode ser confundido com o patrimônio da sociedade."
"Consideram-se como bens, que, juntos e ligados funcionalmente ao escopo-fim da atividade empresarial, formam o denominado complexo organizado, vale dizer, o estabelecimento, o imóvel onde se localizar a sociedade empresária, os signos e nome comercial, a clientela ou freguesia, direito à locação comercial (ponto comercial), direitos de propriedade industrial ou artística (tais como patentes, marcas de comércio e de fábrica, desenhos e modelos industrial), material e móveis necessários às atividades comerciais e industriais (...)."[1]
Daí se extrai o óbvio: o estabelecimento comercial Shopping Diamond é composto pela locação comercial (no caso, arrendamento com data de encerramento em 2026), pela expertise negocial, pelos contratos com terceiros (lojas, quiosques, etc e tal, onde o Galo NÃO é parte, já que firmados tais contratos entre os locatários e a Multiplan), pela marca “Diamond” (de propriedade da Multiplan), pelo plano de negócios, que define o público alvo do estabelecimento e por tudo que seja necessário ao negócio, inclusive gestão, envolvendo bens materiais e imateriais (por exemplo, modelo de auditagem de vendas, sistemas de gerenciamento e tudo o mais).

Logo, de todo o estabelecimento comercial (ou Fundo de Comércio) Diamond, ao Galo, pertence hoje (de forma mitigada pelo contrato de arrendamento até 2026, e de forma total a partir daí) apenas e tão somente o prédio comercial. Todo o resto é de propriedade da sociedade empresária e com ela seguirá, se, após 2026, não permanecer no estabelecimento.

Mais, supondo que a Multiplan aceite administrar o Shopping a partir de 2026, terá o direito de cobrar não só pelo gerenciamento do empreendimento mas, também, pelo uso da marca, querendo o Galo manter o nome, pela locação de algumas lojas que detenham contrato de exclusividade com a Multiplan, pelo modelo de gerenciamento e até mesmo pelo Plano de Negócios lá existente.

Logo, resta claro que, mais que escolher nova administradora para o Shopping a partir de 2026, o Galo terá que começar tudo do zero, a saber:
1)   Decidir se mantém no local um centro comercial de compras ou se fará ali um outro modelo de negócios;
2)   Como não tem expertise, contratar um terceiro para elaborar plano de negócios, atrair empresas em conformidade com esse plano, criar nova marca, com os custos inerentes à sua implantação, inclusive com marketing (que sempre foi nosso ponto fraco), entre outras tantas coisas;
3)   Definir, em plano de investimentos, quanto será alocado para o estabelecimento, seja para reformas ou ampliações, de modo a garantir que não haja obsolescência e, consequentemente, perda de faturamento.

Assim, na verdade, o Galo está vendendo 50,1% de um prédio comercial, mas, ao mesmo tempo, está GANHANDO 49,9% do Fundo de Comércio do Empreendimento. Esse plus é que ninguém vem demonstrando e que – pra mim – é fundamental pra entender o quanto o negócio é bom e salutar para o Galo.

Ou seja, o Galo está AUMENTANDO seu patrimônio com a venda de parte do patrimônio sem que as pessoas percebam isso.
E esse ganho patrimonial esquecido nas discussões é de fundamental importância. Afinal, estamos falando de valores imateriais, ou seja, bens imateriais que não seriam devolvidos ao Galo em 2026, como a marca (que tem valor de mercado calculável), como os sistemas de gerenciamento, como – por exemplo – os contratos de locação de lojas, quiosques e outros, onde o Galo não é parte (nem pode sê-lo antes da devolução em 2026 ou da concretização do negócio).

Assim, meus amigos, é preciso explicitar: com a venda de 50,1% do Shopping (que já explicamos ser apenas um prédio comercial, já que o Fundo de Comércio não é hoje pertencente ao Galo) não teremos apenas o ganho patrimonial de um Estádio, a Arena MRV, mas também o aumento do patrimônio através da aquisição simultânea do Fundo de Comércio, com os bens materiais e imateriais que o compõe.

Isso, pra finalizar, sem contar com a blindagem que efetivamente estará sendo feita ao patrimônio do Galo. Isto é, não será possível, a partir de 2026, valer-se do Shopping para, por exemplo, diminuir conflitos no Conselho, realizar barganhas, etc e tal. Não é porque hoje temos uma Diretoria competente e honesta, com Conselho idem, que podemos garantir que no futuro, seja 2026, seja posteriormente (já que o Galo é imortal) teremos sempre Diretores e Conselheiros abnegados. Blindar patrimônio, nesses casos, é questão de bom senso.

Saudações Alvinegras e Galísticas.



[1] NERY JR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado e Legislação Extravagante. 3ª Edição. São Paulo. Ed. RT, 2005. P.594

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre a ADPF 54

No ensaio O filósofo e sua sombra, Merleau-Ponty diz:
De “morre-se só” para “vive-se só”, a consequência não é exata, pois se apenas a dor e a morte forem invocadas para definir a subjetividade, então para ela, a vida com outros e no mundo serão impossíveis. Estamos verdadeiramente sós quando não o percebemos. Essa ignorância é a solidão. A solidão de onde emergimos para a vida intersubjetiva é a apenas a nevoa de uma vida anônima e a barreira que nos separa dos outros é impalpável.

Primeiro, dispo-me das vestes religiosas da alma. Não quero analisar os votos dos Ministros do STF sob o prisma da fé (ainda que, repise-se, seja um ponto de vista tão válido quanto os outros quando o assunto adentra na esfera da bioética, transdisciplinar e necessitada de ponderação de valores morais, religiosos, culturais para apor limites á ciência), mas sob o prisma jurídico e, principalmente, filosófico.
É aqui que se deve travar a batalha, senhores e senhoras. Pois que o que se discute né, basicamente, se o ser humano deve ser medido por sua utilidade ou por sua simples existência.
Vamos por tópicos:
A ciência é um ferramental necessário para que os homens possam compreender o estar no mundo, mas ela não é (e não pode ser) senhora da razão. Aqueles que creem que a ciência tudo pode, é ilimitada, não usam da razão, mas apenas substituem uma fé (cristianismo, umbanda, islamismo...) por outra perniciosa: o cientificismo. Os cientificistas, apesar de se dizerem defensores da ciência são, na verdade, crentes de uma impossibilidade real: a ilimitada crença na razão como capaz de tudo conhecer. E pior: não se apoiam na ciência, mas no senso comum, que nem sempre encontra amparo nos fatos da vida.
Temos então necessidade de fazer as perguntas certas (tarefa primordial da filosofia) e de impor limites sim á ciência (tarefa da ética).
Pois bem. Os votos dos Ministros do STF, com as vênias de estilo, pecaram por cientificismo, por comprar o que não é real, uma definição indevida, incompleta, inexistente no mundo da vida. Afirmaram que a “antecipação terapêutica do parto” (interessante como se criam neologismos para enganar a maioria: o que se quer dizer é simples e já existe no dicionário: ABORTO) não incide nas penas do Código Penal pois que o feto anencefálico não é vida humana, porque inviável.
Primeiro: não é verdade que o bebê que vem a termo seja anencefálico (sem cérebro); em verdade eles são meroanencefálicos (isto é, têm partes do cérebro, ou do Sistema Nervoso Central). Os anencefálicos – digamos – verdadeiros são abortados espontaneamente pois que, não tendo sequer um SNC rudimentar, não conseguem manter as funções básicas de alimentação ainda no útero. Logo, como não há sequer vestígio de SNC, ou qualquer outro sistema, o organismo cumpre, naturalmente, no tempo certo, seu destino.
Ocorre que os bebês que vem a termo, ainda que vivam por poucos minutos, têm o SNC (ainda que rudimentar) e partes (mais ou menos extensas) do encéfalo. Logo, se submetidos ao exame de eletroencefalograma, emitirão sinais no exame, o que, de pronto (contrariando a Resolução do CFM) impossibilitaria sua declaração de morte cerebral, nos termos da Lei e do Regulamento para definição da morte encefálica.
Segundo: o critério que passou a ser utilizado a partir daí é de um primarismo chocante: fetos (ainda que com sinais cardíacos, sinais de atividade cerebral – ainda que mínimos e com movimentos – coisa que um morto cerebral não faz) passaram a ser considerados não como seres humanos mas como mortos desde antes do nascimento. Uma categoria com a qual nem o direito nem a filosofia jamais se depararam: alguém que emite sinais vitais, mas que é considerado como um não-ser.
Relembrando a história: nas duas civilizações que contribuíram para a construção do pensamento ocidental, dois mil anos atrás, havia uma distinção entre humanos e não humanos (ainda que esses últimos, nascidos de mulher, humanos fossem). Em Esparta, todo ser humano nascido que tivesse alguma deformidade, deficiência ou que não tivesse feição (“parecença”) humana era jogado penhasco abaixo, em prol de uma cidade apenas com pessoas sãs. Em Roma havia a definição de monstro ou prodígio, que o excluía da condição humana. Exigia-se o Nascimento perfeito- que era o nascimento idôneo para gerar conseqüências jurídicas, devendo ter 3 requisitos: nascimento com vida, revestir forma humana e apresentar viabilidade fetal, isto é, perfeição orgânica suficiente para continuar a viver.
Contra tais noções é que se bateram filósofos e religiosos nos quatro primeiros séculos da era crista, até que se chegasse à definição de que a todo ser humano, para ser dotado de personalidade (capacidade de possuir direito e contrair obrigações), para ter reconhecida sua dignidade, bastava ser nascido de uma mulher, independentemente de sua viabilidade ou de sua forma.
Esse o conceito que vigorou desde então: não importam as graves limitações, sendo humano, é pessoa, portadora de direitos.
A propósito da viabilidade (ou duração da vida), vem a calhar Montaigne em seu ensaio “Que filosofar é aprender a morrer”:
Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante.
(...) Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos exime de toda sujeição e coação.
Cumpre esclarecer, portanto:
a) Há vida sim, Senhores Ministros, ainda que breve, ainda que parca, ainda que gravemente limitada. Dizer o contrário é voltar no tempo e assumir o comando do direito romano, definindo que há seres humanos pessoas e seres humanos não-pessoas, em razão de sua utilidade, duração, aparência e forma.
b) Abre-se as porteiras para outras possibilidades, mesmo porque, conforme o Anteprojeto de Código Penal (e mesmo sub-repticiamente nos votos de alguns ministros) qualquer feto de possível inviabilidade (sem definição clara sobre que inviabilidade é essa) poderá, ao fim, ser abortado (ou na novilíngua: ter o parto antecipado).
c) Passa-se a defender o utilitarismo como critério razoável de aferição de direitos (e, pior: como critério razoável de definição de personalidade). Ao se basear num critério utilitário, abre-se a porta para a eugenia, pois que sentido se terá em manter a gestação de seres humanos (sem utilidade, logo, inviáveis) que não poderão ser úteis? Não pensem que estou inventando isso. Quem conhece a obra de Peter Singer (principalmente Ética Prática) sabe do que estou falando. O utilitarismo não é uma boa filosofia para medir ou qualificar a vida humana.
d) O ser humano carrega consigo sua dignidade por sua simples existência. Ele é digno em si, por ser o que é, ainda que, sendo humano, não o seja em toda a sua potencialidade, mas limitado por problemas físicos ou mentais. Não é o critério de utilidade que o faz humano, mas o critério de SER o que É, por si mesmo, ainda que por curto tempo.
Desse modo, deixo claro meu repúdio aos votos a favor da “antecipação terapêutica do parto” (aborto, que outro nome não tem, ainda que com falácias se tente dizer que o aborto, aborto não é), pois que rebaixam a condição humana, retrocedem ao tempo do direito romano, negam o existir e o ser. A Constituição garante a todos o direito à vida, não exige marco temporal, não exige viabilidade, não exige forma humana, não exige duração razoável... Ela simplesmente define que TODO ser humano, nascendo ou vivendo em território brasileiro (ou ainda de passagem, como estrangeiro) tem direito à INVIOLABILIDADE da vida, à proteção jurídica de um bem precioso, sem condicionantes e não condicionada.
Que aprendamos, nesses tempos em que se tenta esconder a dor, o sofrimento e a morte, que isso é um dado de nossa própria existência. Negar o sofrimento (que é bem diferente de procura-lo ou deseja-lo) é negar a essência humana. Medir o homem pela sua utilidade é negar o ser humano.
E com Montaigne, reafirmemos: “Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa”.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Em tempo: não me utilizei de argumentos religiosos, mas poderia fazê-lo:
1) Pelo fato de que também a religiosidade é componente humano, com critérios morais, ônticos e deônticos, válidos para apreciação.
2) Pelo fato de que sou cidadão brasileiro, pago meus tributos em dia, voto e tenho capacidade de ser votado, e posso, sim, exigir que aquele em quem depositei a representação defenda valores que consideraria universais.
3) Repetindo: o Estado é laico, mas o debate na ágora pode se dar por meio de argumentos morais, religiosos ou culturais, sim. Negar essa possiblidade é negar participação e restringir a possibilidade de pluralidade de ideias e conceitos.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Na anencefalia, há a ausência da maior parte do cérebro e da calota craniana (parte superior e arredondada do crânio). Na merocrania, uma condição extremamente rara, há um defeito menos acentuado da caixa craniana e o resquício do cérebro é coberto por uma membrana. Ambas as anomalias são fatais, mas, no segundo caso, a sobrevida costuma ser maior

Fonte: http://marifuxico.blogspot.com/2012/04/veja-foto-brasil-e-o-quarto-pais-com.html#ixzz1rmpbWnGr

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


sábado, 24 de dezembro de 2011

Não parece mensagem de natal, mas é.

Um amigo meu estava para ir à Europa quando lhe perguntei se desistira. Ele me perguntou por que, já que a viagem estava de pé. Respondi que não entendia como alguém queria viajar sem surpresas, e que esse era o caso dele, já que procurava conhecer, via internet, cada monumento, cada detalhe, cada passo do roteiro. E dá-lhe verificar fotos, buscar vídeos, investigar como seria o melhor roteiro, já todo previa e cuidadosamente conferido via google.
Não queremos surpresas, nem decepções. Mas será que quando chegarmos diante do Coliseu, por exemplo, não estaremos todos tão enfastiados das informações virtuais que não saberemos apreciar a história marcada nas pedras daquele templo?!
Temos medo de saborear viagens, sermos surpreendidos, buscar no correr da aventura uma nova rota.
Temos medo, hoje, de saborear os sabores das comidas. Repare no supermercado que as pessoas não estão mais interessadas se aquele alimento vai tornar a vida mais gostosa de ser vivida. Estão, isso sim, consultando se o teor de sódio, as calorias, o não sei mais o quê daquele alimento pode causar essa ou aquela doença, esse ou aquele quilo a mais que se recusa a abandonar o velho corpo.
Temos medo de envelhecer. Por isso, muitos de nós considera a hora na academia mais importante que o momento mesa de bar com os amigos. Pra muitos, mais importante que a vida é o número de gomos que é capaz de exibir no abdômen.
Temos medo de arriscar e aventurar. E queremos conhecer tudo, sem aceitar os pequenos mistérios que brotam no dia-a-dia.
Por isso eu acho que esquecemos o que realmente é o Natal. Estamos tao preocupados em não sermos surpreendidos, em não arriscar, em pesquisar, agendar, listar, que aquela história acontecida num tempo muito antigo não mais nos provoca. Preferimos os papais noeis, que nada nos cobram, que nada nos exigem. Preferimos enfeitar nossas casas com duendes, botinhas, com toques de nova era. Preferimos nos encasular, calculando quanto vamos gastar em presentes e qual a chance de que os presentes que receberemos empatar custos ou nos fazer lucrar.
Recordemos pois a história que mudou o mundo. Que ainda hoje deve nos surpreender, nos fazer arriscar, nos impulsionar à metanoia, à conversão, ao abandono pleno de nós mesmos.
Sim. Ela era uma pobre virgem, da Casa de Davi, num longínquo Israel. Sim. Ela estava prometida a José, um carpinteiro.
Viviam tranquilos em sua aldeola. Sem nada a preocupa-los. Sem nada a surpreende-los. Aquela vida em que se sabe: nasce-se, cresce-se e morre-se.
Sim. Aquela Virgem era audaz. Sim, recebeu uma visita que modificou seu pensar e seu mundo. Sim. Pra que Ela pudesse dizer sim teve que renunciar e dizer outros tantos nãos.
(outro grande problema de nosso tempo: queremos ouvir apenas sins, nenhum não a nos atormentar. Queremos e acreditamos que basta querer. Querer é poder! E nessa vã esperança nos perdemos, e nos consumimos sem saber ou reconhecer que cada sim que dissermos implica em vários nãos, implícitos ou explícitos. Se digo sim no altar á mulher que escolhi, estou, automaticamente, dizendo não a todas as demais mulheres! )
Aquele anjo, aparecido do nada, saudou-a com a reverencia que se deve dar a uma grande Rainha. E ela, despojando-se de si mesma, disse SIM. Quanta renúncia incorporada naquele sim, naquela disposição de servidão ao Deus Único! Ela disse sim, mesmo sabendo que poderia ser incompreendida, que poderia perder seu José, que poderia ter uma vida de sacrifícios e abandono...
E ela disse: Eis a Serva do Senhor. Aceito, mesmo que para mim não seja compreensível que eu possa ter um filho sem conhecer um homem.
- E José buscava meio de abandoná-la em segredo –
E também Jose teve a vida surpreendida. Um anjo lhe aparece e lhe diz: Não temas. É obra de Deus.
E Jose creu. Quantos de nós creríamos nessas circunstâncias? Quantos de nós teríamos esse despojamento diante da vontade do Senhor?
Mas as surpresas apenas começavam. Um censo obriga aquele casal a viajar até Belem, a Casa do Pão.
Nenhum hotel, nenhuma hospedaria, nenhum conforto. Sobrou para o Casal que mais se entregou a Deus apenas um humilde estábulo, com uma manjedoura ao centro, um boi e um burro. Nenhum luxo, nenhum lençol de puro linho ou algodão com 7204304939403940394 fios. Nada de riquezas e nem mesmo se fala na história de uma auxilio de parteira ou médico.
Nascido o Menino não recebem visitas dos grandes da cidade. Não. São pastores que do campo ouvem o chamado dos anjos.
Só ao depois chegam os Magos. Vem adorar o Rei e trazem: ouro, para saudar a Majestade do menino; mirra, para lembrar ao menino de sua humanidade e dos sofrimentos que viriam, de que todo Filho de Mulher nasce duas vezes: ao nascer e ao morrer; incenso, para reconhecer sua divindade, Deus feito carne, o Forte que se fez Fraco para que pudesse salvar os Frascos, transformando-os em Fortes.
E desde então, aquele menino operou prodígios na vida de tantos e tantas. Prodígios que não se restringiram ao seu tempo mas que vem até os dias atuais. Foi em nome Dele que Igrejas, Catedrais e Monumentos foram construídos; foi em Seu nome que se criaram Hospitais, Asilos, Universidades. Foi por causa Dele que a história se dividiu não em antes ou depois de uma grande batalha, não em antes ou depois de um grande Império, mas a história se dividiu em antes a manjedoura e depois da manjedoura. Manjedoura como tantas outras, sem qualquer enfeite, mas que suportou o mais precioso dom que os homens jamais puderam imaginar.
Portanto, meu caro amigo, minha querida amiga, meus irmãos na fé: na ceia de hoje esquecam por um tempo das certezas que carregamos, dos projetos planejados e arquitetados, do seguro, do carro, do cheque especial... Esqueça da sua mania de controle, da sua tendência a rejeitar o novo e manter-se aferrado ao hábito. Abandone – por um momento –o papai noel encharcado de cerveja que está do seu lado e convide a todos em volta da mesa a empreender uma viagem ao passado.
Recorde aos seus amigos e familiares, em torno da mesa, que na Casa do Pão, em Belém, numa humilde manjedoura, repousa Aquele que é a razão de nossa esperança. Recorde a coragem e o despojamento de uma Virgem e de um pobre Carpinteiro. Deixe claro a todos das razões de por um momento adora-lO, a Ele, que sendo Deus, fez-se carne, em tudo igual a nós, exceto no pecado.
Não relativize. Deixe claro que há, gostemos ou não, valores que se sobrepõem às escolhas. Que a liberdade não está em se fazer o que se quer, do jeito que se quer e quando se quer. NÃO! A liberdade consiste em, tendo diversas possibilidades de escolha, escolher a que é a correta e conforme à vontade de Deus.
Ouse pois pedir a todos que, diante do Menino, possamos rezar e pedir para que ele nos auxilie a escolher sempre os caminhos da verdade e da vida.
Não tenha medo! Ele veio menino, cresceu, ensinou, morreu e venceu. Ele venceu o Mundo. Ele vencerá a morte a cada dia. Ele, no seu infinito amor, ainda hoje se faz alimento e ainda hoje nos convida a visitar a Casa do Pão, a celebrar o dia em que o leão e o carneiro pastarão juntos.
Não parece uma mensagem de natal esse texto confuso e disperso. Mas é. Tenha Fé pois Ele veio hoje, Ele virá sempre!
FELIZ E SANTO NATAL!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

É NATAL!



Que saibamos reconhecer nAquele Menino, deitado sobre as palhas, o Senhor e Rei do Universo, nossa Força e nosso Consolo, Príncipe da Paz, Senhor da História.
FELIZ E SANTO NATAL, COM JESUS, SEMPRE!!!!

domingo, 9 de outubro de 2011

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

(Cecilia Meireles)