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sexta-feira, 4 de março de 2011

Assuntos nada a ver, em tempo de ebulição

Assuntos nada a ver, em tempo de ebulição
Às vezes acordo com vontade de falar sobre o nada, sobre amor, sobre aquelas coisas que todos consideram as menos importantes, desimportantes por si mesmas, sem que ninguém lhes dê valor.
Enquanto passam pelas ruas os cordões e blocos que se animam numa alegria fingida, quase que imposta pelas convenções sociais, os blocos e cordões de carnaval, penso em falar sobre o nada, sobre aquilo que não será manchete dos jornais de amanhã, nem receberá chamadas nos sites de notícias (nem tão noticiosos assim, mas com um quê de fofoca falada ao pé do ouvido, rasteira e sem profundidade).
Às vezes me bate um banzo, um sei lá o quê que quase me convence da desimportância do ser, tal a overdose de que só se pode ser tendo, mesmo que ninguém saiba o que vale a pena realmente ter.
Às vezes, e só às vezes, me bate uma vontade de falar sobre o nada, sem ter que pensar no amanhã que virá e que é, certa e claramente conseqüência do ontem que se foi e do hoje que se vive, displicentemente.
Certo que ninguém pode  saber com clareza o que se faz e o que se pensa, que as coisas vão e vêm num turbilhão, certo que do nada surge alguma coisa e que de alguma coisa pode se descobrir a residência do nada.
Em dias como esse, que são sombrios e também claros, nada me comove e tudo me sensibiliza. São em dias como esse, nublados e ensolarados ao mesmo tempo, que os sentimentos se misturam, que esqueço a política, os amores (e desamores) os senhores e os escravos do destino.
São em dias como esse, em que o banzo me envolve, que gosto de falar do nada e do tudo, daquelas coisas e seres que passam por nós sem qualquer atenção.

Enquanto desfilam pelas ruas os foliões, uns tão tristes que precisam de muletas para esboçar sorrisos, que desnudo as máscaras e os sonhos.
Às vezes, em dias como hoje, melhor seria ficar calado e recolher-me à insignificância de mim mesmo, sem ocupações e sem preocupações, deixando apenas que o tempo cure o nada que habita o hoje e que habitará o amanhã.
E que do nada pode nascer algo e de algo pode nascer o nada é certo, como certo é que enquanto desfilam quase em procissão os blocos, a alegria deixa de ser sentimento para se vestir de fantasia.

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